9.10.17

AS ENCARNAÇÕES DE UM HOMOSSEXUAL PUDICO


Heitor era devoto de Poseidon. O ateniense, quando tinha oportunidade de entrar no mar, em suas viagens frequentes para suas apresentações teatrais, saudava, além de Dionísio, o velho deus marítimo com o tridente empunhado. Heitor amava Alexandre de Esparta desde a adolescência. No entanto, seu sonho de consumo afetivo-sexual não tinha reciprocidade. Assim, Heitor deitava-se com todos os homens no afã de esquecer sua velha paixão.

Na França, 500 anos depois, Heitor reencarnou como Jean Pierre, um escultor que trabalhava para o governo. Muito efeminado, o artista parecia ter nascido sem coração. Frequente nas orgias palacianas, Jean Pierre levava uma vida hedonista, atada aos pecados da carne. Morreu sifilítico.

Em meados do século XX, Jean Pierre reencarnou na Alemanha com o nome de Klaus. Desde pequeno percebia uma atração por homens mais velhos. Seu pai havia morrido cedo. O moço formou-se contabilista e trabalhava para uma empresa de metalurgia. Todavia, Klaus reprimia sua homossexualidade por conta da aversão do estado alemão aos homossexuais. Acabou delatado por um "amigo" e foi parar num campo de concentração, ostentando um uniforme com um triangulo rosa invertido.

Hoje, o rapaz que havia sido Heitor, Jean Pierre e Klaus, reencarnou no Brasil. Apostou na América do Sul depois de sofrer tantos dissabores na Europa. Alberto é seu nome. Inteligente, culto, o rapaz reprimiu totalmente sua homossexualidade e, atualmente, é um perseguidor ferrenho à causa LGBT. Filiado a um partido tradicionalista, Alberto, que já foi coroinha em uma igreja do bairro, preza os valores da família conservadora e religiosa. É totalmente a favor do ensino religioso nas escolas e avesso às exposições artísticas de conteúdo sexual. Odeia palavrão, é casto, carola, mas, às escondidas, assiste a filmes pornográficos bizarros. É casado, mas tem uma amante na praia.

O que seria de Alberto se, numa incursão à sua jornada espiritual por suas encarnações, soubesse que havia sido Heitor, o ator grego apaixonado por Alexandre? Ou Jean Pierre, aquele escultor homossexual libertino francês? Ou Klaus, aquele contabilista alemão que acabou sendo encarcerado pela preferência sexual?

Homem, conhece a ti mesmo e rompe teus preconceitos.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gêneros, raças, credos... estamos, mas não somos!

Somos espíritos encaixados em corpos perecíveis. Tal pensamento de Krishna corrobora com uma série de situações do cotidiano. Entre elas est...